Para uma amiga
Toda vez que seu coração se punha a coçar, a menina ficava a perguntar: se era o bichinho do amor que, mais uma vez, se alojava nalgum cantinho, procurando emoção; ou se era a velha alergia à solidão que provocava prurido naquele coração? Mas, esse tipo de coisa ela conhecia tanto, que já tinha mais de uma solução: dar muitas risadas, porque sempre ouvia dizer que rir é ainda o melhor remédio; ou dançar bastante, até o ritmo roçar suas unhas compridas, mandando pra lá todo aquele tédio. E, enquanto escolhia o destino que daria a sua coceirinha, as batidas que também pulsavam diferente nesta ocasião entravam na maior agitação, transformando seu calmo e conhecido tum-tum no maior baticum. Hum, hum! Pensava a menina, não conseguindo se decidir e eleger uma opção. Por isso, seguia vivendo com a mesma coceirinha de amor; ou seria de solidão? Talvez, nem quisesse saber o que causava aquela comichão, porque, sabendo, ia perder a graça a sua grande questão. Fato é que até hoje a menina coça seu coração sem saber ao certo a verdadeira razão.